Data Protection Officer (DPO): o guardião digital que enfrenta novos desafios nas instituições de saúde
Digitalização da saúde pressiona o DPO e revela lacunas críticas na proteção de dados.

Com a explosão de sistemas digitais no setor de saúde — de prontuários eletrônicos a plataformas de telemedicina — um novo personagem ganha destaque nos bastidores dos hospitais, clínicas e operadoras: o Data Protection Officer (DPO).
Profissional responsável por monitorar e orientar a instituição sobre o cumprimento da LGPD e atuar como canal de comunicação com a Autoridade Nacional de Proteção de Dados ( ANPD) e os titulares de dados, o DPO enfrenta hoje um dos maiores testes desde que a LGPD entrou em vigor no Brasil. A promessa de segurança, transparência e conformidade ainda não é uma realidade consolidada em boa parte das instituições — e os números confirmam.
Segundo uma pesquisa do NIC.br, apenas 39% das instituições privadas e 20% das públicas haviam nomeado um DPO até 2021. O cenário atual melhorou, mas lentamente. Em um setor que lida com dados de altíssimo risco, como diagnósticos, histórico clínico e informações financeiras, o atraso pode custar caro.
O peso da digitalização acelerada
A pandemia impulsionou o uso de soluções digitais no cuidado à saúde, mas também revelou vulnerabilidades. A saúde virou um dos setores mais visados por cibercriminosos porque tem dados valiosos e, muitas vezes, pouco protegidos.
Entre novembro de 2021 e outubro de 2022, 43% dos vazamentos de dados em instituições de saúde vieram de endereços IP brasileiros, segundo levantamento do Data Protection Brasil. O número acende um alerta para CIOs, diretores médicos e DPOs que precisam correr para estruturar seus processos internos de governança.
O DPO além da LGPD
Na teoria, o Data Protection Officer (DPO) é a ligação entre a instituição, os titulares dos dados e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). Na prática, o papel vai muito além do jurídico. Envolve entender a operação da instituição de ponta a ponta, traduzir exigências legais em rotinas do dia a dia, orientar o time clínico e de TI, gerenciar riscos e agir com agilidade em incidentes.
E isso exige habilidades múltiplas. É um perfil misto, que precisa dialogar com tecnologia, direito e cultura organizacional ao mesmo tempo.
DPO na saúde: os desafios na linha de frente
Abaixo, listamos os principais desafios enfrentados hoje pelos DPOs que atuam em instituições de saúde.
O primeiro é, sem dúvidas, a gestão de riscos em ambientes descentralizados: clínicas, laboratórios, hospitais e operadoras utilizam diferentes sistemas e tecnologias. Mapear os fluxos de dados é um trabalho minucioso, mas precisa ser executado.
Na sequência, é necessário implantar a conscientização interna, visto que muitos colaboradores ainda não entendem o que pode ou não ser feito com os dados dos pacientes.
Nesse sentido, ter respostas a incidentes é prioritário. Um ataque pode comprometer dados de milhares de pacientes e este plano de resposta claro e acionável é obrigação do DPO.
Por fim, faça avaliações de impacto. Na verdade, antes de adotar novas tecnologias, é necessário prever os riscos e mitigar falhas com antecedência.
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Não basta nomear um DPO no papel. É preciso integrá-lo à estratégia da instituição e dar ferramentas para ele atuar de forma preventiva. Chamar o DPO quando o problema já aconteceu demonstra falta de preparo para os negócios.
Como o DPO pode atuar internamente?
Segundo especialistas, o DPO pode adotar algumas estratégias para fortalecer a cultura de proteção de dados nas instituições de saúde, como, por exemplo, criar canais diretos com o time clínico e assistencial, traduzindo as normas da LGPD em ações práticas no atendimento.
Outras ações, são: participar da escolha de novos sistemas e tecnologias, analisando se há risco à privacidade do paciente; estabelecer uma agenda de treinamentos regulares, com linguagem acessível e voltada à realidade dos profissionais da saúde; e, por fim, trabalhar com indicadores e métricas de conformidade, alinhando a segurança da informação à estratégia institucional.
FAQ: o que você precisa saber sobre o Data Protection Officer (DPO)
- O que é um DPO?
É o profissional responsável por monitorar e orientar a instituição sobre o cumprimento da LGPD e atuar como canal de comunicação com a Autoridade Nacional de Proteção de Dados ( ANPD) e os titulares de dados.
- Toda instituição de saúde precisa de um DPO?
Sim, desde que trate dados pessoais em larga escala. A maioria das instituições de médio e grande porte se enquadra nesse requisito.
- O DPO precisa ser um advogado?
Não obrigatoriamente. Ele pode ter formação em áreas diversas, como TI, administração ou direito, desde que tenha conhecimento técnico sobre proteção de dados.
- Qual o maior desafio do DPO hoje?
Atuar com autonomia e apoio da liderança para implementar uma cultura de privacidade em ambientes onde a operação é altamente técnica e o ritmo, acelerado.
Resumindo o DPO
Em um cenário de transformação digital acelerada, o Data Protection Officer (DPO) deve ser visto como uma figura estratégica nas instituições de saúde, pois atua como guardião da confiança entre pacientes e organizações, promovendo uma cultura de responsabilidade no uso de dados sensíveis.
Para isso, é importante que o DPO seja inserido nas decisões institucionais, com voz ativa, acesso às lideranças e ferramentas adequadas para agir de forma preventiva.

